O experimento do sistema público de saúde britânico para promover cidades mais saudáveis

POR LUIZ FERNANDO HAGEMANN

O Reino Unido esteve sempre na vanguarda do planejamento urbano. Muito antes do Housing and Town Planning Act (Ato de Planejamento de Municipalidades e Habitação em tradução literal) de 1909, que pela primeira vez na história britânica definiu regras nacionais de planejamento urbano, os britânicos já ensaiavam conceitos e planos específicos. O plano de 1909 foi muito baseado no conceito de “Cidades Jardins” de Ebenezer Howard (1980s) – e que em algum grau paz parte do atual código de planejamento – que primordialmente se focava em cidades com forte visão de liderança e engajamento comunitário; captura do valor da terra em benefício da comunidade; mistura de tipologias residenciais; alta qualidade no desenho arquitetônico; oportunidade para agricultura local; entre outros. Críticas ao modelo a parte, o enfoco é entender que o planejamento urbano britânico evoluiu – dos primórdios conceitos do século XI – e influenciou e influência governos e urbanistas ao redor do mundo.

Já na década de 1940, após o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo central britânico lançou o New Towns Programme (Programa de Novas Municipalidades, em tradução literal) de forma a promover a reconstrução de cidades e o desenvolvimento e abrigar as crescentes populações de Londres – na Inglaterra – e Glasgow – na Escócia; o Plano em muito aplicava ainda os conceitos das Cidades Jardins. Sua segunda fase veio em 1961, seguida pela terceira em 1967.

Agora, é o National Health Services (o sistema público de saúde britânico) que promove um novo projeto de cidades, de forma a provocar hábitos saudáveis e enfatizar mais a prevenção de doenças do que o tratamento de enfermidades, através do Health New Towns. Assim, como já comentado em artigos anteriores (investimento em saúde & bairros saudáveis), o NHS entende o papel primordial do planejamento urbano e o uso de dados na promoção de comunidades saudáveis.

Através da interação entre agentes de saúde, governos locais, construtoras e outros stakeholders o projeto visa a criação de espaços benéficos. E tão importante quanto a interação entre os atores, é a determinação do NHS em utilizar seu vasto portfólio imobiliário como propulsor e experimento em atingir seus objetivos. Portanto, dez sítios foram escolhidos ao redor da Inglaterra para aplicarem os três tópicos chaves até 2019:

i. Transformar novas cidades, bairros e comunidades com o intuito de promover qualidade de vida, prevenir doenças e manter os cidadãos independentes na realização de suas atividades;

ii. Repensar radicalmente como os serviços de saúde são entregues, e apoiar o aprendizado e absorção de novos modelos integrados de serviços de saúde;

iii. Disseminar o aprendizado e as boas práticas em futuros desenvolvimentos imobiliários, e de revitalização de espaços urbanos.

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Fonte: NHS England, 2018.
#ParaTodosVerem
>> Mapa ilustrativo das cidades selecionadas e uma tabela com número de novas residências a serem adicionadas ao sítio. <<

Em cada projeto piloto, responsabilidades pela condução e ações são divididas entre os parceiros. A estrutura e processo do programa pode ser conferida abaixo:

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Fonte: Adaptado de NHS England, 2018.
#ParaTodosVerem
>> Esquemático dos processos e estrutura do programa, mostrando três etapas. <<

Além de receber o financiamento para transformar as localidades, as cidades envolvidas irão beneficiar-se de comunidades e bairros mais saudáveis, com menor incidência de doenças – como já mostrado pela literatura – e, ainda:

  • Ser nacionalmente e internacionalmente reconhecida como líderes na criação de espaços mais saudáveis;
  • Ter a oportunidade de aconselhar, em alto nível, publicações nacionais;
  • Ser parte de uma comunidade colaborativa com acesso a encontros especiais e materiais;
  • Poder colaborar com outras cidades do projeto para troca de experiências;
  • Acessar contatos governamentais; e
  • Ter a oportunidade de apresentar sua experiência em conferências e ampliar seu reconhecimento com líder.

Por fim, o projeto demonstra como novas aproximações no processo de planejamento urbano devem ser adotadas pelo poder público em todos os seus departamentos, considerando que as políticas públicas são sempre holísticas. Ao fim do programa, o NHS poderá prover evidências adicionais dos benefícios de um bom desenho urbano na qualidade de vida da população e, na redução de índices de doenças e custos aos serviços públicos de saúde.

 

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